sexta-feira, 25 de maio de 2007

Cultura brasileira?

Já faz uns bons 10 anos que leio, vejo, ouço uma penca de coisas da imprensa dando conta de um resgate contemporâneo da famigerada "coisa brasileira". São peças, filmes, artistas plásticos, bandas, grupos, com os tais elementos "regionais". Fazendo as famosas misturas, esses produtos da cultura de massa fornecem demonstrações da cor local, do regional, do folclore, da tradição (sempre perdida ou esquecida, dizem...)... e clamam - ou o fazem por eles? - por uma autenticidade que é sua. E de mais ninguém.

Como já ouço isso há uma década, é natural pensar em formular questões sobre esse papo de se é regionalista, é autêntico. Embora ache que há muito mais gente por aí que é milhões de anos-luz mais gabaritada que eu pra falar disso... Mas, vocês sabem, blog é espaço para verborragia incontida. E como a pocilga aqui é minha, vamos lá...

Por que é que é "mais autêntico" o produto artístico que se apóia no zzzz... (hum?) resgate das tradições folclóricas brasileiras, etc etc? Se é pra ser regionalista, falar das peculiaridades de seu estado ou sua região, seu cotidiano, etc etc, vamos radicalizar e perguntar como que faz com o Rio e São Paulo? Metrópoles onde o traço principal... é a modernidade (ou a pós, diriam alguns)!

Por que a modernidade tem que ser inautêntica? Porque o concreto, o asfalto, o assalto, a correria são menos interessantes que o boitatá, que o saci pererê, que o maracatu e o velho do Rio? Pra falar a verdade, eu acho os primeiros melhores provedores de possibilidades criativas que os outros. Quantas estórias podem ser contadas a partir da experiência urbana, que é tão vasta, tão intensa, tão imprevisível... tão fabulosa! *** isso pq não vou nem falar da experiência subjetiva, daquelas coisas que acontecem com todas as pessoas e que acabam sendo universais justamente por serem tão pessoais.

Sempre lembro daquela coisa árcade de volta ao campo, de resgate da tradição, mas, sob meu ponto de vista, isso é opção que, embora válida, é pouco sedutora. Não é corajosa, entende? Voltar ao conhecido é bem mais fácil do que inaugurar uma tradição, um costume ou um folclore. É mais seguro. Encarar o urbano e reconhecer a cultura - pop - dos dias de hoje, o cosmopolitismo, a velocidade, a invasão anglofona na língua de cada país não é abraçar uma globalização imperialista e se curvar diante dos comandantes das corporações. Não é aceitar, não é relevar, é também produzir, na minha concepção.

Só por que é urbano é ruim? Só por que foi globalizado não presta? Só porque começou em outro lugar não vai ser brasileiro um tempo depois? Se continuar por aí, vou precisar refrescar a memória da galera e lembrar que as tradições folclóricas de hoje foram trazidas de fora uns séculos atrás... e acolhidas (umas mais, outras menos customizadas) pelo povo daqui: do samba ao coelho da páscoa. O que me traz de volta àquela questão do início: o que é ser autêntico?

Cada vez mais tenho certeza de que essa pergunta deveria ser reformulada, porque não vejo autenticidade autêntica nas coisas. Nem sei se ela existiu, pra falar a verdade. O que é a experiência original? Não sei, nunca vi. Por mais que se clame por ela, pouco se viu e muito falou-se sobre. Talvez só dela pudesse ser extraído o conceito da autenticidade.... mas aí, ela deixaria de ser autêntica se o isolássemos?

Por isso tudo, quando alguém fala que o grupo X resgata o elemento regional em suas músicas ou o filme Y mostra o brasil autêntico, eu já olho torto. E quando os editais privilegiam obras regionalistas em detrimento das urbanas, por deixarem explicíta em suas normas a necessidade de exaltar a experiência brasileira? Também...

Não vou nem falar do rock. Ok, veio de fora. O candomblé também e ninguém acha ruim. E por que fazer/ouvir/gostar/consumir rock é menos autêntico que consumir "as brasilidades"? Rock não é cultura brasileira? Quem diz?

Inaugurar tradições. Abraçar o urbano criador, o cosmopolita facilitador.
Não é ser vendido. É negociar. É estratégia.
Não é autêntico. Porque não é essa a questão.
Ela não interessa.
Deste lugar cibernético que ninguém visita - e que eu mesma frequento menos do que deveria - gostaria de fazer algo mais interessante, mais divertido. Pelo menos pra mim, que sou a dona da pocilga até que me despejem.

Toda vez que penso coisas boas pra escrever elas me fogem, dada a impossibilidade de escrever no momento em que pensei ou outro similar. Assim, o blog se compadece e tem que se contentar com declarações e textos muito mais burocráticos, pensados e chatóides do que eles deveriam ser... enfim, coisas....

Sei apenas que, após completar 25, estou tentando mergulhar num esforço de transformação. Eu, Wanessa Camargo, Sandiléia, Irislene, Winnits, todas se reinventando... Só que a delas sai na capa da Caras, do Ego, paga assessoria de imprensa, negocia notinha em jornal... A minha tem que ser gratuita porque não famosa, escrita a próprio punho porque pobreta e publicada em blog porque preocupada com o meio-ambiente.

Dia desses, ouvi/li alguém dizendo: "ser você mesmo não é ser igual o tempo todo" e achei legal pacas. Era algo assim... apesar da citação capenga, dá pra entender o sentido. Essa singela frase fez alguma coisa piscar aqui dentro da caixola, que me impulsiona a tentar o novo, a experimentar ousar, coisa que não fiz muuuuito durante as últimas duas décadas e meia.

A transformação, a mudança, não precisa ser da noite pro dia, num piscar de olhos, num estalar de dedos, num pufft... desde que aconteça. E tb não precisa ser preto no branco, nem só profunda, nem só aparente. Desde que aconteça. Que seja como a transição para o regime democrático, lenta, gradual e sei lá o quê.

Agora, por exemplo, quem me encontrar na rua pode até conseguir perceber que estou querendo comprar uma bota bonita, num esforço de usar este item que eu acho o máximo e que nunca me caiu tão bem assim. Mas não vão perceber se mudei por dentro, porque ninguém percebe nada a partir de um "tudo bem?" ou da ausência dele.

Aliás, isso é também fruto dessa vontade de mudança, uma postura de parar de julgar e condenar antecipadamente. Let people be. Let me be. Let everyone be.

Mantra.

É mais ou menos por aí.

No final do segundo quarto, espero olhar pra trás e ficar satisfeita. Ao final deste, já fiquei com umas coisas, meio com o pé atrás com outras. Mas isso é normal. São os vinte e poucos e estou dentro da curva.

terça-feira, 15 de maio de 2007

Sono e adjacências

Ontem foi pesado. Um fim de semana mutcho agitado, com direito a 2 shows, sushis, caldinho de feijão com vinho doce e uma tempurá de camarão fazem maravilhas pelo corpo cansado. Aí, é a segunda-feira que paga o pato.

Mas nada que dois baldes de café não segurem, to certa? Péeeeeee! Não, tá errada, perdeu tudo e nem chegou a gastar a ajuda dos universitários!!!! Cadê a cafeína que eu injetei via oral? Só foi dar sinal de vida lá pelas tantas, quando já era hora de ir apagando as luzes, desesquentando os tamborins pra ir pros braços de Brunolo e Morfeu...

Mas hoje é terça, é outro dia. Hoje pode ser o dia de ver o Homem Aranha (eu não vi, mas o meu amigo de número 5 viu e achou uma bosta). Hoje pode ser o dia de alugar 5 DVDs na Macedônia e dormir logo no menu do primeiro. Um dia contém um mundo de possibilidades, então, por que optar pelas mais óbvias e assistir ao Jornal Nacional?

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Questã:
por que a gente sempre lembra daquela música da cozinha oriental, do Videohits, quando come num restaurante sinojaponês?



Todo mundo comigo:


Com a maior delicadeza, o jovem homem penetrou
A faca ginsu japonesa no coração de seu avô

E uma geisha apavorada chorava a morte do idoso

Mas ele há de ser vingado. farei um prato bem gostoso.


Refeição familiar é a da cozinha oriental

Não é um vovô esquartejado, temperado, desossado

Que vai me fazer mal

Ao mastigar a refeição, o jovem homem saboreou
Aquele gosto de fritura misturado em sakura

Coma tudo, meu esposo. faça feliz sua menina

Se a sakura está amarga é porque tem estricnina


Refeição familiar é a da cozinha oriental
Não é um vovô esquartejado, temperado, desossado
Que vai me fazer mal


(Repete refrão)

Quem vai pro céu pode ir contente
Tem mordomia de montão
No inferno é diferente

O sistema é no bandeijão